sexta-feira, abril 18, 2008

As razões das professoras e professores criar PDF versão para impressão enviar por e-mail
17-Abr-2008
Francisco LouçãO acordo celebrado entre a Plataforma Sindical e o governo dividiu o movimento de professores. Houve quem com ele embandeirasse em arco, houve quem achasse que foi uma derrota trágica. Ainda bem que todas as visões foram e estão a ser discutidas nas escolas. Depois da grande manifestação e ainda mais depois do acordo, é fundamental definir uma estratégia para a luta ao longo destes meses do fim do ano lectivo e sobretudo ao longo do próximo ano. É sobre isso que quero apresentar aqui alguns argumentos.

Primeiro argumento: o governo foi forçado a recuar. O governo recuou de facto, mas numa única matéria: foi vencido na chantagem contra os professores contratados, porque queria fazer deles cobaias para o processo de avaliação e foi forçado a aceitar um processo de classificação que tem em conta unicamente a auto-avaliação e a assiduidade ou presença em acções de formação, excluindo assim o arbítrio. Não se pode diminuir o significado deste recuo. Pelo contrário: tem faltado aos movimentos de professores a solidariedade com os contratados, e que seja agora aceite que eles e elas têm os mesmos direitos e deveres de todos os docentes, pelo menos na avaliação, é um passo importante. Para o Bloco de Esquerda, que tinha e tem como objectivo a integração dos contratados na carreira docente, este recuo do governo é importante.

Segundo argumento: o governo, mesmo com esse recuo, procura preservar o essencial, que é a posição da ministra e o processo de avaliação. E o processo de avaliação ficou previsto para o próximo ano lectivo, o que agrava ainda mais as duas outras batalhas em que os sindicatos recuaram: o novo modelo de gestão e o estatuto da carreira docente. O governo tem um plano e ele é implacável: gestão, carreira e avaliação são três momentos da mesma ofensiva. A ministra e o primeiro-ministro querem continuar esta ofensiva. Assim, o segundo objectivo do Bloco de Esquerda, contribuir para parar a avaliação persecutória e abrir espaço para um modelo de avaliação novo, não foi conseguido. Foi por isso que, à RTP e a propósito do acordo, lancei um alerta contra o governo manhoso e insisti na necessidade de continuar a construir um movimento por um modelo de avaliação que derrote o do governo. É na avaliação que está a fragilidade do governo e a força dos professores. É na avaliação que se travarão os confrontos que contam. É aí que o governo quer ser forte porque intransigente e os professores e professoras têm de ser fortes porque sensatos.

Terceiro argumento: é preciso um modelo de avaliação alternativo, que demonstre a incompetência do governo e que reforce a ligação dos movimentos dos professores aos pais, aos alunos e à opinião pública. A avaliação deve avaliar e avaliar o essencial: como é que a escola está a melhorar ou a piorar no combate ao insucesso e à exclusão escolar. A avaliação deve medir os desenvolvimentos dos planos de trabalho e dos seus resultados, por regiões, por escolas, por grupos de cadeiras, e deve envolver todos os professores nas metas e nos modos de trabalho definidos para essa construção da inclusão escolar. Onde o governo quer perseguição aos professores, estou certo que os professores querem respostas aos problemas dos alunos e das escolas.

Quarto argumento: os sindicatos são precisos e devem responder perante os professores, mas são precisos também movimentos mais profundos que disputem o conteúdo da educação, que pensem a educação, que proponham alternativas de estratégia para a educação. E só as professoras e professores podem criar esses movimentos, escola a escola. Esse é o desafio mais importante. É o que fica depois de cada confronto com cada ministro. E, se do governo nada há a esperar senão afrontas aos professores naquele estilo gelado e imperial da ministra e no apoio total do primeiro-ministro, então cabe aos professores criar a sua própria voz nas questões mais importantes, que são as das escolhas sobre uma educação moderna e inclusiva. Nesse campo, só os professores defendem a paixão pela educação e esse é o sentido democrático da movimentação pela escola pública.

Francisco Louçã in esquerda.net


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