quarta-feira, dezembro 03, 2008

Cerca de duas centenas e meia de Professores em greve concentraram-se frente à Câmara de Portimão e foram recebidos pela Vereação


No dia da greve, cerca de duas centenas e meia de professores, convocados de forma espontânea através de SMS e mails, concentraram-se em frente à Câmara Municipal de Portimão, onde foi lido um documento, aprovado por unanimidade e aclamação, para entregar ao Presidente da Câmara e a toda a Vereação, explicando as razões da sua luta. No local foi constituída uma Comissão dos Docentes em Luta, formada por 8 professores, representantes dos Agrupamentos de Escolas e Escolas Secundárias do Concelho de Portimão, tendo assinado o respectivo documento. Seguidamente, esta Comissão foi recebida pelo Vice-Presidente (o Presidente encontrava-se ausente) e por toda a Vereação que se encontravam reunidos em sessão de Câmara. O porta-voz da Comissão, João Vasconcelos, fez uma síntese do documento apresentado, tendo o Vice-Presidente, Dr. Luis Carito, mostrado compreensão pela luta dos professores e prometendo entregar o documento ao Presidente da Câmara, a toda a Vereação e Assembleia Municipal e interceder junto do governo sobre a luta dos professores.


Em baixo: fotos da concentração em Portimão, Documento apresentado e Comissão constituída.




Fotos cedidas pelo Jornal de Portimão


Ex.mº Sr. Presidente

da Câmara Municipal

de Portimão

C/C

- Executivo e toda a Vereação da Câmara Municipal

- Assembleia Municipal de Portimão


Os docentes portugueses encontram-se em luta – neste dia 3 de Dezembro cumprem uma Greve à escala nacional - contra o modelo de avaliação do desempenho imposto unilateralmente pelo Ministério da Educação. Não contestam nem recusam ser avaliados. Consideram mesmo que a avaliação do seu desempenho profissional pode e deve ser encarada como uma importante componente do seu desenvolvimento profissional, contribuindo para a melhoria da qualidade da escola. Esta avaliação deve assentar na dimensão do trabalho cooperativo, perspectivado numa lógica essencialmente formativa e contínua, cruzando a responsabilidade individual de cada docente com a responsabilidade colectiva e organizacional.


No entanto, perante a aplicação do modelo de avaliação do desempenho instituído pelo Decreto Regulamentar n.º 2/2008 de 10 de Janeiro, os docentes em luta consideram que:


Todas as evidências apontam para a impraticabilidade do modelo de avaliação imposto pelo Ministério da Educação. A sua implementação nas escolas tem mostrado que ele é inadequado, porque inexequível e injusto, em nada contribuindo para a melhoria do desempenho profissional docente, da qualidade da escola e das aprendizagens dos alunos.


O processo de implementação da avaliação tem-se revelado bastante tortuoso, tecido num emaranhado normativo burocrático e contraditório, que alimenta um processo labiríntico e profundamente desgastante. Tem-se vindo a traduzir num enorme dispêndio de tempo útil em actividades que em nada contribuem para a desejável melhoria dos desempenhos profissionais, desviando os docentes daquilo que deve constituir o cerne da sua actividade: as actividades de ensino-aprendizagem, a actualização científico-pedagógica e o trabalho cooperativo.


A maioria dos itens constantes das fichas de registo da avaliação não é passível de ser universalizada, uma vez que não são aplicáveis a todos os docentes; muitos outros não são ainda objectiváveis por não existirem quadros de referência para sustentação de critérios e indicadores. Estes aspectos põem em causa os princípios básicos da transparência e equidade do processo administrativo.


A avaliação entre pares, se tem sentido numa lógica formativa, numa lógica classificativa, tendo em vista a promoção na carreira e consequente hierarquização, torna-se problemática e geradora de grande conflitualidade entre pares, dividindo artificialmente os professores e pondo em causa qualquer construção no sentido da melhoria colectiva da escola como um todo.


O estabelecimento de quotas para as classificações de Muito Bom e Excelente, revela que o seu real objectivo é o de institucionalizar uma relação hierárquica dentro das escolas e dificultar, ou mesmo impedir, a progressão na carreira, numa lógica claramente economicista, da qual se vislumbram duas consequências igualmente nefastas: o desincentivo e desinvestimento dos docentes na melhoria das práticas e implicação na escola, ou a concorrência individualista no mostrar de “obra feita”.


A preocupação com a implementação do modelo de avaliação veio descentrar os docentes e as escolas do que é a sua missão central, concebendo-se a avaliação como um fim e não como um meio, como se a melhoria das aprendizagens e dos resultados dos alunos dependesse exclusivamente da aplicação de um normativo de avaliação dos docentes, relegando para segundo plano a preocupação com as apostas genuínas e não utilitárias de melhoria.


A melhoria dos resultados dos alunos, bem como o abandono escolar, são realidades que não dependem exclusivamente da acção dos professores e das escolas. Os contextos socioeconómicos e culturais, a acção da família e as atitudes dos alunos são componentes essenciais para o sucesso das aprendizagens e a valorização da escola. Sobre este propósito, ganha todo o sentido e pertinência a Recomendação nº 2 do Conselho Científico da Avaliação dos Professores, que, nesta matéria, inteiramente se subscreve. Mais ainda, é absolutamente incontestável que os alunos não são sujeitos passivos no acto educativo, sendo co-responsáveis pelo seu sucesso. Ignorando este princípio, o modelo de avaliação dos docentes só poderá ter dois efeitos indesejados: a desresponsabilização dos alunos e o facilitismo na avaliação. A melhoria dos resultados dos alunos, bem como o abandono escolar apenas não contam para a avaliação do desempenho dos docentes este ano escolar, mantendo-se nos anos seguintes, o que é inaceitável.


Um processo desta natureza, pela complexidade do que está em causa, dos instrumentos que utiliza e dos efeitos que provoca, exige transparência de processos e decisões, coerência, precisão, credibilidade e fiabilidade dos dados que irão sustentar a avaliação dos docentes. Tal facto, torna incontornável a necessidade de um período de experimentação, sem qualquer efeito jurídico-legal na progressão da carreira dos docentes. Por outro lado, tendo em conta a forma arbitrária e administrativa com que se dividiu a carreira docente em duas categorias hierárquicas - sem que tal se fundamentasse na evidência de experiência profissional de supervisão ou na posse de qualificações para a função de avaliação de professores – aconselha a um processo de formação prévia dos avaliadores, sustentado em práticas de observação e reflexão sobre o exercício da profissão docente, designadamente na sua dimensão científico-didáctica e pedagógica, devidamente enquadrado nas estruturas de orientação educativa.


As sucessivas simplificações, ou aberturas para que as escolas simplifiquem, provam a referida impraticabilidade do modelo, aumentando o risco dos seus efeitos negativos e a responsabilidade das escolas e dos docentes nesses mesmos efeitos, do que poderão vir a ser acusados. Colaborar nestas adaptações aligeiradas, viabilizando a sua implementação, é abdicar da oportunidade de se exigir um sério e justo modelo de avaliação do desempenho, que sirva de facto para a melhoria do sistema educativo.


Pelo exposto e neste contexto:

Os professores e educadores em luta em Portimão, depois de terem suspendido todas as iniciativas e actividades relacionadas com o processo de Avaliação do seu Desempenho, certos que, desta forma, contribuem para a melhoria do trabalho dos docentes, das aprendizagens dos seus alunos e da qualidade do serviço público de educação, exigem a imediata suspensão do actual modelo de avaliação de desempenho e a negociação de um outro modelo mais justo, exequível e transparente, que verdadeiramente valorize a profissão docente e contribua realmente para o fim que supostamente visa, ou seja, a dignificação e promoção da qualidade da Escola Pública que todos preconizamos.


Por outro lado, esperando a compreensão e o apoio à nossa luta por parte de V. Ex.ª (e de toda a Vereação), solicitamos que interceda e transmita à tutela as razões do nosso movimento e das nossas tomadas de posição.


Desde já, agradecemos a disponibilidade de V. Ex.ª por nos ter recebido.


Portimão, 3 de Dezembro de 2008


A Comissão dos Docentes em Greve e em Luta:


João Vasconcelos – Agrupamento de Escolas D. Martinho de Castelo Branco

Simeão Quedas – Agrupamento de Escolas Professor José Buísel

José Sá Vieira – Agrupamento de Escolas Júdice Fialho

Luis Moleiro – Agrupamento de Escolas Engenheiro Nuno Mergulhão

Fernando Gregório – Agrupamento de Escolas de Alvor

Luisa Penisga González – Agrupamento de Escolas da Mexilhoeira Grande

Rui Martins – Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes

José Carlos Camilo – Escola Secundária Poeta António Aleixo


Nota: esta e outras notícias sobre a luta dos profs. também poderão ser lidas em http://fenixvermelha.blogspot.com/

Abraço.

J. Vasconcelos

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