sexta-feira, outubro 29, 2010

Esquerda apela à mobilização para a contra-cimeira da NATO

Conferência organizada pelo GUE/NGL em Lisboa discutiu a necessidade de uma grade mobilização social nas manifestações contra a NATO e a Cimeira. Por Nelson Peralta.
Na conferência participaram vários deputados e antigos deputados do GUE, especialistas em assuntos militares e activistas sociais da PAGAN, “Paz Sim! NATO Não!”, CGTP-IN, CPPC, UMAR e MDM. Foto de Nelson Peralta
“A esquerda deve trabalhar em conjunto a questão da guerra e da NATO. É essencial que haja uma esquerda que defenda uma via pacífica” defendeu Lothar Bisky na abertura da conferência “Pela Paz no Mundo, Contra a NATO e a militarização da UE” organizada pelo GUE/NGL esta sexta-feira em Lisboa, onde daqui menos de um mês decorrerá a Cimeira da NATO para a aprovação do seu novo conceito estratégico. As eurodeputadas Marisa Matias, do Bloco de Esquerda, e Ilda Figueiredo, do Partido Comunista Português, coordenaram os painéis da conferência.
“Outros partidos como a social-democracia e mesmo os Verdes – que surgiram como força pacifista – estão numa encruzilhada, negando as suas referências históricas com a conivência ou o apoio a guerras” prosseguiu o presidente do GUE/NGL. O eurodeputado do Die Linke alemão destacou o papel da mentira na guerra, como no caso dos Balcãs, onde o Ministro da Defesa alemão começou a guerra com uma grande mentira, mostrando falsas provas de execuções em massa. “Sempre disseram que ninguém tinha o propósito de separar o Kosovo da Sérvia, mas vejam agora a realidade”.
“A falta de alimentos, a pobreza, o desemprego, a falta de acesso a serviços de saúde, que por sua vez geram fluxos migratórios no mundo, são os verdadeiros problemas. A intervenção militar não é solução, muitas vezes é instrumento que agrava o problema.” Bisky denunciou o paradoxo dominante, “temos de acabar com as armas nucleares no mundo, mas enquanto os outros as tiverem também as devemos manter. Assim continuaremos num mundo nuclear”.
Quem paga a guerra?
“Desde a queda do muro de Berlim e do fim do Pacto de Varsóvia, a NATO tem tentado redefinir o seu papel estratégico, caminhando para o alargamento territorial. A aliança transatlântica passa a ser uma aliança ocidental com projecção global”, considera Marisa Matias. Acabou a era da guerra infinita de Bush e passamos à era da indefinição de Obama, mas em relação à NATO, a única dúvida é como reduzir os custos da guerra. Para a dirigente do Bloco de Esquerda, este será um dos pontos em destaque na cimeira. “Um caminho é atrair países europeus a partilharem os custos da guerra, outro é procurar parcerias com terceiros, alianças regionais”.
“Na Europa, há países mais alinhados e outros menos alinhados. Portugal é do grupo dos mais alinhados”, avalia, considerando que a UE não quer correr riscos nesta matéria, dado serem intoleráveis para a opinião pública. A eurodeputada recordou ainda a votação desta semana em que a União Europeu alinhou a sua política de segurança energética com a NATO.
Marisa Matias considera a Palestina, Líbano e Irão como possíveis zonas de conflito. “Não há condições para haver mais guerras, nem sequer para resolver as que estão em curso. Contudo, a possibilidade de novas guerras nunca está posta de lado”. É assim importante a discussão destas questões junto da opinião pública e essencial “uma grande mobilização social nas manifestações contra a NATO e a Cimeira”.
Durão Barroso, anfitrião das Lajes
Ilda Figueiredo lembrou o papel de Durão Barroso, agora Presidente da Comissão Europeia, na guerra do Iraque. “Portugal tem estado nesta rota imperialista da guerra, mas o nosso povo demonstrou que é contra essas políticas”. Apelou ainda à participação de todos neste importante ciclo com uma greve geral contra o Orçamento e uma manifestação contra a NATO em apenas quatro dias. “É um tempo de grandes lutas, e neste momento é importante a vossa presença”.
“A História mostra que o capitalismo e a guerra são inseparáveis. Guerra para conquistar recursos e esmagar alternativas ao capitalismo. A história da NATO é disto exemplo. O sistema capitalista não sobrevive sem a repressão e a guerra”. Para a eurodeputada, a profunda crise económica, nos Estados Unidos e na União Europeia, coexiste com transformações no xadrez internacional, com os casos dos países emergentes. “Há realidades inter-imperialistas que estão em cima da mesa e é à luz desse processo que devemos ver a militarização da União Europeia e a possível revisão do Tratado de Lisboa para um maior domínio dos países mais ricos sobre os povos da Europa.
A má imagem dos Estados Unidos levou ao lançamento de Obama, mas foi uma ilusão que demorou pouco tempo. “Ainda esta semana, a ONU condenou o embargo a Cuba. Desta vez apenas houve dois votos contra: Estados Unidos e Israel, cada vez com menos apoio.” Ilda Figueiredo denunciou ainda os focos de tensão alimentados, nomeadamente na Bolívia, no Equador, na Costa Rica. “Denunciamos a subserviência de Portugal à NATO, e insistimos no cumprimento da Constituição da República. O desarmamento foi uma conquista do 25 de Abril”.
NATO não abdica da intervenção à margem da ONU
Para o general Pezarat Correia, a novidade deste conceito estratégico é o reconhecimento do papel de liderança da ONU, mas não se abdica da intervenção sem o seu aval. A aliança tenta ainda atrair a Rússia para uma maior cooperação e é evocada a necessidade do reforço de parcerias. Quanto às novas ameaças, Pezarat Correia destaca a inclusão da “ciberguerra” e a defesa anti-míssil. Porém, o especialista em assuntos militares considera que depois de toda a grande panóplia tecnológica, não está preparada para o combate ao seu inimigo mais comum e mal equipado. De facto, “a NATO tem dado provas de uma grande inutilidade”.
O GUE/NGL é um grupo confederal no Parlamento Europeu que agrupa 17 partidos de 12 Estados-Membros. Na conferência participaram vários deputados e antigos deputados do grupo, especialistas em assuntos militares e activistas sociais da PAGAN, “Paz Sim! NATO Não!”, CGTP-IN, CPPC, UMAR e MDM.

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